Título: The Truth About The Harry Quebert Affair | A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert
Autor: Jöel Dicker
Jöel Dicker é um autor que estava na minha lista de leituras obrigatórias há anos. Quando encontrei uma cópia de capa dura autografada da primeira edição de The Truth About The Harry Quebert Affair, nem pensei duas vezes e comprei.
Marcus, do you know what is the only way to know how much you love someone?
No.
By losing them.
Aclamado pela crítica com esta obra, Jöel Dicker é um dos pesos pesados da Literatura Francesa com projecção internacional invejável. Embora a sinopse me tenha deixado um pouco reticente, tenho tendência em confiar na comunidade literária, apesar dos trambolhões que já dei com a leitura de livros aclamados que me deixaram desiludida.
The reason writers are such fragile beings, Marcus, is that they suffer
from two sorts of emotional pain, which is twice as much as a normal
human being: the heartache of love and the heartache of books. Writing a
book is like loving someone. It can be very painful.
Contado na primeira pessoa e na voz de Marcus Goldman, a obra narra os incidentes que levaram à edição da obra The Root of All Evil, escrita por Harry Quebert - um famoso autor norte-americano e mentor de Goldman. Marcus, que após escrever um best-seller se vê incapaz de produzir nada que valha a pena, procura conforto junto de Quebert e descobre que o antigo professor teve um caso amoroso com uma jovem de 15 ano8s quando o mesmo tinha 34. Nola, a jovem por quem Quebert se apaixonou, desapareceu pouco antes do lançamento do livro que lhe deu fama, mas alguns meses depois de Goldman retomar o contacto com Quebert, o corpo da jovem é encontrado no quintal do Professor com uma pasta e o manuscrito original de The Root of All Evil.
Life is like a foot race, Marcus: There will always be people who are
faster than you, and there will always be those who are slower than you.
What matters, in the end, is how you ran your race.
Com o intuito de provar a inocência do mestre, Goldman dirige a sua própria investigação e fica a conhecer os protagonistas do verão mais importante da vida de Quebert.
Nobody knows he's a writer. It's other people who tell you.
Não há como negar o talento de Dicker. O enredo prende o leitor com facilidade, conduzindo-o de um ponto ao outro com fluidez e pormenores que pintam na perfeição a paisagem norte-americana dos anos 70. A construção tridimensional das personagens é quase sempre conseguida, apesar de recorrer a alguns estereótipos que por vezes se tornam irritantes, como é um bom exemplo a personagem da mãe de Marcus - roçando a matriarca infantil, desesperada por ser avó agora que a cria deixou o ninho. Outra personagem que sinto que não foi devidamente construída foi a da própria Nola. Ao longo da leitura não consegui criar um desenho mental da personagem. Pareceu-me uma colagem fraca de atributos. E isso reflecte-se na própria "história de amor" entre a menina e Quebert.
A piece of writing is never good,” he told me. “There is simply a moment when it is less bad than before.
Este tema foi o que mais me alarmou. Ao longo da leitura, pareceu-me que Dicker tentou através da voz de Goldman justificar a relação de Quebert e Nola e pintá-la como amor puro entre uma adolescente e um homem adulto. E venham daí os defensores do "ah e tal, o amor não tem idade", mas à medida que se avança na leitura do livro confere-se que não se trata de amor por muito que Dicker bata o pé até ao fim e afirme que sim. Trata-se da distorção deste sentimento com o intuito de justificar a união destas duas personagens e, ainda por cima, de forma nada convincente. Não só Quebert se apaixona por Nola porque ela dança à chuva na praia e adora gaivotas (oh, sim, sem dúvida que é amor profundo), mas como ainda a deseja mais por querer ajudá-la a ultrapassar os traumas de infância depois de descobrir que a mesma sofre de problemas psiquiátricos. Faz então sentido, na mente rebuscada de Quebert, que manter uma relação pedófila com a Nola a irá conduzir de alguma forma à salvação, isto tudo, claro, ao mesmo tempo que tentar atingir o estrelado literário, usando-a como musa. Assistimos na verdade à normalização de um acto criminoso com a desculpa de que é por um bem maior, o que o deverá tornar de alguma forma justificável. Por favor, senhor Dicker, não é preciso manter uma relação amorosa com uma menor doente psiquiátrica para a ajudar.
Writers who spend all night writing, addicted to caffeine and smoking
hand-rolled cigarettes, are a myth, Marcus. You have to be disciplined.
It’s exactly the same as training to be a boxer. There are exercises to
be repeated, at certain times of day. You have to be persistent, you
have to maintain a certain rhythm, and your life has to be perfectly
ordered.
The Truth About The Harry Quebert Affair recebe assim três estrelas. Dicker escreve bem e soube planear esta obra com pistas e reviravoltas por vezes inesperadas. Há grandes citações sobre Literatura e livros, mas a repulsa que senti por estas personagens principais revoltou-me até à última página.
Sinopse: Verão de 1975. Nola Kellergan, uma jovem de quinze anos, desaparece misteriosamente da pequena vila costeira de Nova Inglaterra. As investigações da polícia são inconclusivas. Primavera de 2008, Nova Iorque. Marcus Goldman, escritor, vive atormentado por uma crise da página em branco, depois de o seu primeiro romance ter tido um sucesso. Junho de 2008, Aurora. Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados do país, é preso e acusado de assassinar Nola, depois de o cadáver da rapariga ser descoberto no seu jardim. Meses antes, Marcus, discípulo de Harry, descobrira que o professor vivera um romance com Nola, pouco tempo antes do seu desaparecimento. Convencido da inocência de Harry, Marcus abandona tudo e parte para Aurora para conduzir a sua própria investigação.