Título: Klara and The Sun | Klara e o Sol
Autor: Kazuo Ishiguro
★★★★☆
Kazuo Ishiguro ganhou um amplo espaço no meu coração com Never Let Me Go. Quando Klara and The Sun foi anunciado, o primeiro livro desde que o autor venceu o Prémio Nobel da Literatura, não resisti em adquirir o audiobook para as minhas viagens casa-trabalho, trabalho-casa.
“Hope,’ he said. ‘Damn thing never leaves you alone.”
Ishiguro tem uma capacidade visionária de pintar o nosso mundo com nuances distópicas e fazer-nos questionar se alguma vez a nossa sociedade tomará proporções semelhantes. Kazuo Ishiguro é um mestre em virar a nossa realidade do avesso com a inserção de cenários que podem vir ser bem reais devido aos nossos progressos tecnológicos e científicos. Foi esse o exemplo em Never Let Me Go e é agora o caso de Klara and The Sun.
“Our generation still carry the old feelings. A part of us refuses to
let go. The part that wants to keep believing there’s something
unreachable inside each of us. Something that’s unique and won’t
transfer. But there’s nothing like that, we know that now. You know
that. For people our age it’s a hard one to let go.”
Se em Never Let Me Go somos confrontados com questões éticas no que toca à clonagem humana, em Klara and The Sun, as questões que se colocam recaem sobre a criação e o uso de robots de Inteligência Artificial, desenhados à nossa imagem e semelhança e nas interacções dos mesmos com humanos. A história é narrada na primeira pessoa por Klara uma AF (Artificial Friend) e a mestria de Ishiguro posiciona-se aqui, na facilidade com que relata o mundo desconhecido através dos olhos de um robot. Mais, o leitor sente uma conexão forte a Klara e é fácil que ela nos parece tão real quanto uma jovem adolescente humana: curiosa, destemida e determinada.
“But then suppose you stepped into one of those rooms,’ he said,
‘and discovered another room within it. And inside that room, another
room still. Rooms within rooms within rooms. Isn’t that how it might be,
trying to learn Josie’s heart? No matter how long you wandered through
those rooms, wouldn’t there always be others you’d not yet entered?”
A primeira parte do livro foi a minha favorita pois é nela que Klara se concentra na análise e descoberta do mundo humano através da janela da loja onde está à venda. A análise pelos olhos de alguém que ainda está a aprender sobre as emoções e como as mesmas influenciam os outros é intensa e envolve-nos num deslumbre talvez semelhante ao que sentimos em pequenos e que nos transforma em quem somos. Foi a parte final do livro que me desiludiu um pouco, pareceu-me apressada na conclusão e por vezes até um pouco confusa, daí que não atribua a esta leitura 5 estrelas. Ainda assim, aconselho vivamente.
“Sometimes,’ she said, ‘at special moments like that, people feel a pain alongside their happiness.”
Sinopse: Do local onde está exposta, Klara, uma Amiga Artificial com notável
capacidade de observação, vê com atenção o comportamento dos que entram
na loja para apreciar os artigos e dos que passam na rua e se detêm a
olhar as montras.
Acalenta a esperança de que entre um cliente que a escolha, mas, quando
surge a possibilidade de as suas circunstâncias se alterarem para
sempre, Klara é aconselhada a não se fiar muito nas promessas dos seres
humanos.
Através do olhar de uma narradora inesquecível, Kazuo Ishiguro contempla
em Klara e o Sol o mundo moderno em rápida mudança para compreender uma
questão fundamental: o que significa amar?