Título: Dracula
Autor: Bram Stoker
Título: Before the Coffee Gets Cold
Autor: Toshikazu Kawaguchi
★★★★☆
Este livro caiu-me nas mãos por acaso - alguém no Goodreads estava a ler e eu fui inspeccionar a sinopse. É algo que faço com frequência e o Goodreads tem sido um companheiro ao longo dos anos que me ajuda a manter os livros lidos e por ler mais ou menos listados. Assim, não hesitei em adquirir o audiobook para esta leitura e aqui estamos nós.
Water flows from high places to low places. That is the nature of
gravity. Emotions also seem to act according to gravity. When in the
presence of someone with whom you have a bond, and to whom you have
entrusted your feelings, it is hard to lie and get away with it. The
truth just wants to come flowing out. This is especially the case when
you are trying to hide your sadness or vulnerability. It is much easier
to conceal sadness from a stranger, or from someone you don’t trust.
Como já referi, estudei Japonês, História e Cultura do Japão na Universidade pelo que tenho muito carinho pela Literatura do país. Assim, sou fã de leituras que tenham lugar em Tóquio especialmente, pois leva-me de volta e recordar é sem dúvida viver. Ler também.
We must become friends before this coffee cools.
Before the Coffee Gets Cold não é um livro de escrita poética, mas é uma história com um poder de visualização com o requinte de um Anime. Acreditem ou não, na minha cabeça a acção decorreu toda em estilo de anime e foi incrível.
Negativity is food for malady, one might say.
No Cafe Funiculi Funicula existe uma cadeira onde quem se senta é capaz de viajar no tempo. Se é só mais um livro de Sci-fi e viagens no tempo? Não e eu explico porquê. Existe um conjunto estrito de regras para que esta viagem possa ser feita. Em primeiro lugar, o viajante tem de perceber que não importa o que faça no passado ou no futuro, nada irá alterar o presente, ao contrário de outras histórias com viagens no tempo. Em segundo lugar, só é possível encontrar pessoas com quem se tenham encontrado no Funiculi Funicula. Em terceiro lugar, não podem sair da cadeira assim que a viagem começa, caso contrário são de imediato trazidos para o presente. Em quarto, a cadeira está ocupada o dia todo por uma mulher misteriosa que só se levanta uma vez por dia para ir à casa de banho. Em último lugar, e mais importante de tudo, durante a viagem têm de beber o café que lhes é servido antes que arrefeça. Uma trabalheira de viagem, certo?
I was so absorbed in the things that I couldn’t change, I forgot the most important thing.
Parece uma trabalheira muito grande para se poder viajar no tempo sem que nada possa ser alterado, mas e se apesar de não conseguirem mudar nada, estavam dispostos em visitar o passado ou o futuro se isso implicasse encontrarem alguém com quem gostariam de ter uma conversa nova ou diferente? Em quatro capítulos, Toshikazu Kawaguchi dá-nos a conhecer uma viagem no tempo de quatro personagens diferentes e os motivos para as mesmas. São viagens com a esperança na manga e lições de vida para os viajantes e até para os outros clientes do café.
But Kazu still goes on believing that, no matter what difficulties people face, they will always have the strength to overcome them. It just takes heart. And if the chair can change someone’s heart, it clearly has its purpose.
A escrita não é poética como estava à espera e assemelha-se a um guião de teatro em algumas partes (nem sempre!), e também isso é um ponto a favor para a ideia de que se acompanha o enredo como um anime. Este é o principal motivo pelo qual não lhe atribuo cinco estrelas. De resto é uma leitura interessante e leve, mesmo quando aborda temas como Alzheimer ou a morte.
Existe um segundo livro com outros quatro contos que já adicionei à lista de leituras, porque acho que será interessante revisitar o Funiculi Funicula.
Apesar de não ter encontrado nenhum Anime baseado nesta história, existe um filme e, claro está que irei ver.
★★★★☆
Sinopse: O que mudaria se pudesse viajar no tempo?
Num pequeno beco em Tóquio, há um café que funciona há mais de cem anos. Mas esta cafetaria oferece aos seus clientes uma experiência única: a oportunidade de viajar no tempo.
Em Antes que o café arrefeça, encontramos quatro visitantes, cada um com a esperança de aproveitar a oferta de viagem no tempo para: confrontar o homem que os deixou, receber uma carta do marido cuja memória foi tirada por Alzheimer , para ver a irmã uma última vez e para encontrar a filha que nunca tiveram a hipótese de conhecer.
Mas a viagem ao passado não é isenta de riscos: os clientes devem sentar-se num determinado assento, não podem sair do café e, finalmente, devem retornar ao presente antes que o café arrefeça. . .
A bela e comovente história de Toshikazu Kawaguchi explora a velha questão: o que mudaria se pudesse viajar no tempo? Mais importante, quem gostaria dereencontrar, talvez pela última vez?
Destemidas - Mulheres que Só fazem o que Querem - Pénélope Bagieu
Título: Destemidas - Mulheres que Só fazem o que Querem
Autora: Pénélope Bagieu
Wu Zeitan, imperatriz chinesa que foi precursora do direito laboral; Aagnodice, médica ginecologista grega que arriscou a vida para que as mulheres pudessem exercer a medicina no seu país; ou Leymah gbowee, que lutou pela paz na Libéria e foi Prémio Nobel da Paz em 2011, entre muitas outras. Elas desejaram ser independentes, viajar, ser úteis, estudar, trabalhar, chegar ao poder de um país, ou simplesmente... salvar um farol!
Título: Anxious People
Autor: Fredrik Backman
Olhar para um imóvel não é geralmente uma situação de vida ou morte, mas uma casa aberta, um apartamento torna-se exactamente isso quando um ladrão de banco falido entra e faz um grupo de estranhos como reféns. Os cativos incluem um casal recém-aposentado que implacavelmente busca consertadores para evitar a dolorosa verdade de que eles não podem consertar o próprio casamento. Uma banqueira rica que tem estado ocupada demais a ganhar dinheiro para se preocupar com qualquer outra pessoa e um jovem casal que está prestes a ter o seu primeiro filho, mas não consegue concordar em nada, desde onde querem viver até como se conheceram. Adicione à mistura uma mulher de 87 anos que viveu o suficiente para não ter medo de alguém de arma na mão, uma agente imobiliária nervosa, mas ainda pronta para fazer negócio e um homem misterioso que se trancou na única casa de banho do apartamento.
Cada um deles carrega uma vida inteira de queixas, mágoas, segredos e paixões que estão prestes a transbordar. Nenhum deles é totalmente quem parece ser. E todos eles - incluindo o ladrão de banco - anseiam desesperadamente por algum tipo de resgate. À medida que as autoridades e meios de comunicação cercam o apartamento, esses aliados relutantes revelam verdades surpreendentes sobre si mesmos e colocam em movimento uma cadeia de eventos inesperados.
Bem humorado, Anxious People é uma história engenhosamente construída sobre o poder duradouro da amizade, do perdão e da esperança - as coisas que nos salvam, mesmo nos momentos mais ansiosos.
Título: O Torcicologista, Excelência
Autor: Gonçalo M. Tavares
★★★★☆
Filosofia nunca foi o meu forte. Apesar de ser considerada uma das intelectuais da turma quando era miúda, esta disciplina estava no final das minhas favoritas (na verdade nem integrava a lista) e eu tinha com ela uma relação de amor-ódio: porque compreendia os conteúdos, mas aborreciam-me. Hoje, sei que isto se deve em parte à forma como os professores nos cativam. Uma disciplina é sempre mais apelativa se o professor assim a fizer e foi este o meu problema com Filosofia, os métodos utilizados pela professora (que era um doce de pessoa, atenção!), não me cativaram. Apresentados de outra forma, talvez os conteúdos me tivessem despertado maior curiosidade.
Sim, de facto. Mas como ninguém quer fazer figura de parvo, os homens fingem que ouviram com os ouvidos e que entenderam com a cabeça a frase essencial que o profeta acabou de dizer.
Posto isto, eu própria hesitei quando vi O Torcicologologista, Excelência à venda na Bertrand, mas se 2020 testou os meus limites a nível pessoal, não havia porque não o fazer com questões literárias e aqui estamos nós. A escrita de Gonçalo M. Tavares é como um ribeiro: corre sem pressa, sem perturbar e com uma clareza pura e esta obra é prova disso. Divido em duas partes, Diálogos e Cidade, somos confrontados com situações estranhas e absurdas que nos obrigam a analisar as nossas próprias acções e vidas. A Filosofia é feita disto e por muito esquisitos que estes Diálogos por vezes se tornem, a mensagem chega mesmo ao leitor menos atento. A mim, até me arrancou algumas gargalhadas e confesso que é provável que este seja o livro que possuo com mais post-its nas margens (eu uso post-its para marcar os livros, e vocês?), tantas foram as citações de que gostei.
Pois sim. Mas numa cidade moderna, o destino é o sítio onde o homem sai de dentro do carro.
Cidade, a segunda parte, é mais curta do que Diálogos, mas não menos profunda. É constituída uma lista de pessoas sem nome, numeradas. Cada uma delas podia ser um de nós, alguém que nos é próximo ou alguém de quem nunca ouvimos falar. A lista é rodada de forma a sabermos o que cada pessoa está a fazer, a pensar ou a ultrapassar, em geral numa frase. Algumas destas pessoas conhecem-se, outras não e, na maior parte, desconhecemos os relacionamentos, mas de uma forma ou de outra, estão interligadas, tal como todos nós.
Não nos entendemos com extrema exactidão.
A combinação perfeita.
Não é um livro de leitura rápida, é daqueles que é para ir lendo, devagar. Apreciem a viagem, acho que vão gostar.
P.S.: Peço desculpa por os links afiliados não estarem ligados à página do livro, mas já não o encontro nos sites da Bertrand e da Wook. Ainda assim, está disponível no site da Fnac caso considerem adquirir.
★★★★☆
Sinopse:
"- Gosto muito de bater na cabeça das pessoas com uma certa força.
- Gosta?
- Sim, agrada-me. Dá-me prazer. Uma pessoa vai a passar e eu chamo-a: ó, desculpe, Vossa Excelência?!
- E ela - a Excelência - vai?
-
Sim. Quem não gosta de ser chamado à distância por Vossa Excelência?
Apanho sempre, primeiro, as pessoas pela vaidade… é a melhor forma.
- E quando a pessoa-Excelência chega ao pé de Vossa Excelência, o que acontece?
-
Ela aproxima-se e pergunta-me: o que pretende? E eu, com toda a
educação e não querendo esconder nada, digo: gostava de bater com certa
força na cabeça de Vossa Excelência. É isto que eu digo, apenas. Nem
mais uma palavra."
Título: Mexican Gothic
Autora: Silvia Moreno-Garcia
Depois de receber uma carta frenética de Catalina, a sua prima recém-casada, implorando por ajuda, Noemí Taboada segue para High Place, uma casa enigmática no interior do México.
Noemí é uma salvadora improvável: uma socialite glamourosa cujos vestidos chiques e o batom vermelho são mais adequados para um cocktail do que para investigações amadoras. Mas ela também é inteligente, com uma vontade indomável e destemida. Face a uma nova realidade, Noemí não tem medo do novo marido de Catalina que é ameaçador e atraente; do sogro, o antigo patriarca que parece fascinado por Noemí; e nem mesmo da própria casa, que começa a invadir os sonhos de Noemi com visões de sangue e desgraça.
Título: How To Pronounce Knife
Autora: Souvankham Thammavongsa
★★★★☆
Sou fã de Contos. Nem sempre foi assim, mas como eu própria gosto de escrever pequenas histórias, com o tempo este tipo de narrativa ganhou raízes. Não passa um ano em que não me dedique a dois ou três livros de Contos e este ano o primeiro foi How To Pronounce Knife. Souvankham Thammavongsa é a autora de quatro livros de poesia e esta foi a sua estreia em prosa. Nascida na Tailândia, num campo de refugiados oriundos do Laos, Souvankham cresceu e foi educada em Toronto. Não será de todo de estranhar que a sua primeira publicação de contos se foque nas vidas de refugiados do Laos. Tal como muitos dos livros que publico, não está traduzido para Português, mas fica a dica para quem quiser uma leitura leve ainda que sumarenta.
Beauty was boring. To be ugly was to be particular, memorable, unforgettable even.
Sumarenta porque as histórias de Thammavongsa são ricas em personagens fortes e enredos interessantes com detalhes de um quotidiano que poderia ser o de todos nós. Existe um momento, quando termino um livro, em que o revejo mentalmente, em um ou dois segundos. Não sei se vos acontece. Há histórias que marcam mais do que outras, mas finalizado How To Pronounce a Knife, penso que todas elas ficaram comigo de alguma forma. É esse o poder do conto, abalar-nos em poucas páginas e causar impacto. Com uma escrita fluída, Souvankham transporta-nos para dentro destas vidas com destreza e agarra-nos à página sem dificuldade.
What she won was nothing but being right.
Este é um livro que nos obriga a pensar como é difícil para um refugiado abandonar a sua terra mãe e reestabelecer a sua vida num novo país com todos os obstáculos que isso acarreta e para os quais nem sempre estamos disponíveis para ver. Uma nova cultura, uma nova língua, os traumas do passado e os sonhos para o futuro - todos espelhados em cada um destes catorze contos.Não nos é oferecido nenhum final real em nenhuma das histórias, tratam-se de momentos e reflexões da vida de cada uma destas pessoas: mães, pais e os seus filhos.
People die sometimes, and it doesn't have to be a reason why.
Um favorito pessoal foi o conto Randy Travis em que um filho se foca na paixão platónica da mãe pelo cantor Randy Travis. Não capaz de escrever em inglês, a mãe pede-lhe ajuda para escrever cartas ao artista. Inconformado com este amor e com o facto do próprio pai não se importar em ver a esposa cantar, dançar e compará-lo ao cantor, o filho escreve cartas de ódio que a mãe assina em lao e às quais nunca obtém resposta. A paixão acaba por desaparecer após um concerto para o qual o pai gasta uma pequena fortuna para ver a mãe feliz. É um conto de reflexão sobre o que esperamos dos nossos pais e como por vezes esquecemos que, tal como nós, são pessoas com sonhos e aspirações, defeitos e mágoas.
Recomendo este livro sem reticências.
★★★★☆
Sinopse:
Na história do título da coleção de estreia de Souvankham Thammavongsa,
uma jovem traz um livro da escola para casa e pede ao pai que a ajude a
pronunciar uma palavra complicada, uma troca simples com consequências
inesquecíveis. Thammavongsa é uma mestre em identificar momentos como
este - momentos de exposição, deslocamento e confusão que nos empurram
contra os limites da linguagem.
As histórias que constituem o livro How to Pronounce Knife
focam-se em personagens que lutam para se orientar em território
desconhecido ou que se movem entre idiomas, culturas e valores. Um
boxeador fracassado descobre o que realmente significa ser um campeão
quando começa a pintar as unhas no salão da irmã. Uma jovem tenta
discernir as hierarquias sociais invisíveis, mas imutáveis, numa fábrica
de processamento de frango. Uma mãe ensina a filha a arte de colher
minhocas.
Numa prosa tensa e visceral que a estabelece como uma das vozes mais marcantes e seguras de sua geração, Thammavongsa questiona o que significa ganhar a vida, trabalhar e criar sentido.
Título: Radio Silece
Autora: Alice Oseman
Sinopse: E se tudo a que te propuseste estivesse errado?
Frances é uma máquina académica com um objetivo: entrar numa universidade de elite. Nada se porá no seu caminho - nem amigos, nem um segredo, nem mesmo a pessoa que ela é por dentro.
Mas quando Frances conhece Aled, o génio tímido por trás do seu podcast favorito, Universe City, ela descobre uma nova liberdade. Ele destranca a porta para a verdadeira Frances, e pela primeira vez ela experimenta uma verdadeira amizade, sem medo de ser ela mesma. Mas quando o podcast se torna viral, a frágil confiança entre eles quebra-se.
Presa entre quem era e quem anseia ser, os sonhos de Frances desabam. Sufocada de culpa, ela sabe que tem que enfrentar o seu passado e confessar porque Carys desapareceu ... Enquanto isso, na universidade, Aled luta sozinho contra segredos ainda mais sombrios.
Um livro para jovens adultos que aborda questões de identidade, a pressão para ter sucesso, diversidade e liberdade de escolha, Radio Silence é um tour de force da escritora mais emocionante da sua geração.
Opinião:
★★☆☆☆
Everyone's different inside their head.
Este é um livro para fãs de Fangirl da Rainbow Rowell, o que pode entusiasmar alguns mas, para mim não é um ponto a favor. Ainda antes de chegar a meio da leitura, era o Fangirl com um twist que eu revia nas acções das personagens e na escrita de Oseman. Os primeiros capítulos frustraram-me um bocadinho, mas como já referi várias vezes, não sou capaz de largar um livro a meio e como tal engoli em seco e embarquei com força de vontade.
Everything's better under the stars, I suppose.
If we get another life after we die, I'll meet you there, old sport...
O livro tenta abordar vários assuntos que merecem a nossa atenção: a
nossa identidade perante uma sociedade que deveria ser mais tolerante, o
cyberbullying, a pressão académica e, claro, a amizade e o amor como
tábuas de salvação. Neste caso, parece-me que remo contra a maré, pois sou confrontada com uma quantidade abundante de fãs desta obra, mas não consigo perceber de onde vem tanto aplauso. A escrita de Oseman desiludiu-me. Talvez a culpa seja minha porque este livro está categorizado como YA e, das últimas vezes que me dedico a este tipo de leituras, noto que a linguagem me parece pouco cuidada com enredos simples e questões pouco aprofundadas. E isto entristece-me, porque YA não devia significar o debitar de uma história. No caso de Radio Silence, o diálogo impera e é a arma favorita da autora para nos dar a conhecer as personagens. Existem também muitas trocas de SMS's, "gravações" de um podcast cujo objectivo é dar-nos pistas obscuras da vida de Aled Last, comentários online numa página do Tumblr e YouTube. O que mais falha são as descrições que são curtas e pouco detalhadas. Sem sal, para vos ser franca. De vez em quando, salta uma frase ou outra à vista, mas parecem deslocadas e pouco memoráveis.
Sometimes I think we're the same person...
but we just got accidentally split into two before we were born.
Frances é a menina marrona da escola, delegada de turma, sempre com notas impecáveis e, como seria de esperar, com poucos amigos e uma vida social mínima para uma adolescente da sua idade e viciada num podcast de Sci-Fi chamado Universe City cujo autor é desconhecido do público e sobre o qual ela passa os dias a desenhar. Logo aqui torci o nariz porque este é o tipo de personagem estereótipo que a premissa do livro com todos os temas que deseja abordar devia evitar. Ser-se "marrão" não obriga a uma vida social isolada e vice-versa, e provavelmente por isto fiquei ainda mais sensível e crítica a tudo o que se seguiu. Um exemplo disso é o facto da personagem Frances ser filha de uma mulher caucasiana e um homem etíope, mas este pedacinho de informação que é tão importante só nos é revelado quando a personagem de certa forma já se enraizou e, no meu caso, nada me fez antever este pormenor que é crucial tirando a capa da minha edição do livro. O que leva a isto é a introdução das personagens maioritariamente feita através de diálogos e maneirismos repetidos que não contribuem em nada para uma construção tridimensional das mesmas.
I'm platonically in love with you
A amizade de Frances e Aled nasce de um encontro embriagado que não deixa de ser um cliché de tão previsível a situação e acrescento que se trata de uma situação constrangedora que não encaixa com as personagens. Com estranha facilidade, tornam-se amigos. Frances numa base de fã-ídolo, Aled lacónico e depressivo. Juntos, trabalham no podcast - Aled escreve e grava, a fan-arte de Frances torna-se a arte oficial, o que lhe dá imenso protagonismo entre os fãs de Universe City. No fundo, Frances e Aled são os melhores alunos do mundo, que nos escassos tempos livres, encontram refúgio naquele mundo imaginário de Aled. Até que a identidade de Aled vem a público e a relação deles desaba: há uma tentativa de apelar ao tema do cyberbullying, da privacidade online e afins. Tudo feito de raspão. As acções e pontos de viragem são tão forçados que a cola usada por Oseman é peganhenta e não consistente. Além disto, acho importante não só sentirmos afinidade com as personagens de um livro, mas com as suas atitudes e formas de estar. Se não houver afinidade, ao menos que haja lógica nas suas acções. Não é de todo o caso do "primeiro encontro" destes dois assim como o desenrolar da relação de ambos. Senti a autora a empurrar as personagens para situações das quais nenhuma queria fazer parte.
I wasn’t sure how anyone could mistake an Indian girl for a British-Ethiopian girl, but there it is. Gotta love white people.
O mistério em redor do desaparecimento de Carys, a irmã gémea de Aled e paixão platónica de Frances, é escrito à deriva de deambulações momentâneas da autora e não de uma forma coerente e estruturada pelo que não há realmente aquela curiosidade do leitor em resolver o que deveria ser um dos temas centrais da história. Aliás, a única referência feita a Carys na sinopse é tão lacónica quanto a sua presença ao longo do enredo. Dei comigo ao fim de 75% a perguntar-me e o que raio aconteceu à Carys, one é que me perdi? Á parte de uma breve referência e aparição constrangedora nos primeiros capítulos, é no final do livro que Frances percebe como reencontrar Carys e salvar Aled de uma depressão profunda. Mais uma vez, são impulsos da narração que poderiam ter sido melhor espaçados no enredo para de facto lhe conferir o mistério e suspense que a autora tenta invocar com esta personagem, mas que falha redondamente.
I don’t think age has much to do with adulthood.
O final arrasta-se até à exaustão e terminar esta leitura tornou-se exasperante. Lamento que esta história não me tenha tocado como parece ter feito com quem me aconselhou o livro e com a maior parte das pessoas que o leu. Não o posso recomendar como uma leitura eficiente que nos faz deveras pensar sobre os assuntos que se tentam abordar como a identidade de género, as nossas relações e atitudes no mundo virtual, a homossexualidade e até o racismo. A ideia é gira, mas o conteúdo ficou aquém. Acredito que a Literatura YA merece mais e é capaz de melhor. Reforço que este é um livro para quem gosta de Rainbow Rowell em geral, em específico para quem adorou Fangirl, mas não é tão fascinante como apregoado.
Título: Silver Sparrow
Autora: Tayari Jones
Sinope: Com a frase de abertura de Silver Sparrow, "O meu pai, James Witherspoon é bígamo", Tayari Jones revela uma história de tirar o fôlego sobre a decepção de um homem, a
cumplicidade de uma família e duas adolescentes apanhadas no meio.
Situado em um bairro de classe média em Atlanta na década de 1980, o romance gira em volta das famílias de James Witherspoon - a pública e a secreta. Quando as filhas de cada família se encontram e fazem amizade, apenas uma delas sabe que são irmãs. É uma relação destinada a explodir quando segredos forem revelados e ilusões quebradas. Enquanto Jones explora os bastidores das personagens ricas e imperfeitas, também revela a alegria e a destruição que elas trouxeram para a vida uma da outra.
No centro de tudo isso estão as duas meninas cujas vidas estão em jogo e, como as melhores escritoras, Jones retrata a fragilidade dos seus personagens com autenticidade crua enquanto buscam o amor, exigem atenção e tentam imaginar-se como mulheres.
Opinião:
★★★★★
Se Janeiro foi um mês de poucas leituras para mim, bastou uma noite de insónia para terminar Silver Sparrow, pelo que apesar de o ter terminado na madrugada de 01 de Fevereiro, vou contá-lo como a minha leitura de Janeiro. Perdoem a batota!
A primeira frase de um livro deve ficar-nos na memória é exactamente esse o caso de Silver Sparrow, como devem ter percebido pela sinopse.
Este é um livro de leitura rápida e fácil não só porque o mundo de Silver Sparrow tem uma base sólida e a narrativa é construída da mesma forma, mas porque Tayari embala os leitores com uma escrita honesta e bonita, sem frases ou palavras complicadas, mas com detalhes ricos e expressões que ficam no olho de quem as lê. Isto reflecte-se nas personagens e vice-versa - são pessoas como nós, com defeitos e aspirações com as quais sentimos uma afinidade quase instantânea.
“Silver” is what I called girls who were natural beauties but who
also smoothed on a layer of pretty from a jar. It wasn’t just how they
looked, it was how they were. The name came from a song my mother sang
sometimes when she was getting dressed to go out somewhere special. She
sang along with Aretha Franklin at the end: “Sail on, silver girl… Your
time has come to shine. All your dreams are on their way.”
Dana e Chaurisse são as narradoras deste enredo complexo. Dana é a outra filha, a filha secreta de James, uma jovem bonita e parecida com a mãe Gwendolyn, uma mulher que arrebatou o coração de James em poucos minutos de conversação. Ambas estão a par da existência da "primeira" família: a esposa Laverne, com quem James casou aos 14 anos, e a filha Chaurisse.
And this is how it started. Just with coffee and the exchange of their
long stories. Love can be incremental. Predicaments, too. Coffee can
start a life just as it can start a day. This was the meeting of two
people who were destined to love from before they were born, from before
they made choices that would complicate their lives. This love just
rolled toward my mother as though she were standing at the bottom of a
steep hill. Mother had no hand in this, only heart.
Ao contrário de Gwen e Dana, Laverne e Chaurisse não fazem ideia de que a "segunda" família existe e vivem felizes nesta ignorância em que James trabalha com afinco para manter. Mas, como é de calcular, até quando estão uma mulher e uma filha dispostas a serem postas de lado e em completo segredo perante a sociedade?
"The key to life," he told me once, "is to avoid the highs and the lows.
It's the peaks and valleys that mess you up.
Quando Dana e Chaurisse se tornam amigas, as fronteiras bem delineadas dos segredos de James são postas em causa e podem conduzir à destruição não de uma, mas de duas famílias.
People say, that which doesn't kill you makes you stronger.
But they are wrong. What doesn't kill you, doesn't kill you.
Adorei o livro em especial devido à magia das palaras de Tayari. Nunca tinha lido nenhuma história com o tema da bigamia como chavão e penso que por isso e por nunca ter ouvido nenhum relato de uma situação semelhante não foi tema sobre o qual tivesse qualquer tipo de opinião, mas Silver Sparrow veio demonstrar como o amor e a desilusão podem andar de mãos dadas. Despertou-vos a atenção?