O Vale Da Paixão - Opinião e Playlist

3:25 da tarde

Já se encontra disponível aqui a Playlist para a minha primeira leitura de uma obra de Lídia Jorge: O Vale da Paixão.

Não os inquietava a sobrinha de Walter, apenas os sobressaltava que uma criança não tivesse medo do escuro, nas noites em que a lua escondia da Terra a sua face branca.  

 A história dos Dias, uma família algarvia que sobrevive da agricultura e onde nasce Walter que em nada se identifica com o meio. Narrada pela filha/sobrinha do mesmo, estas são as memórias de uma narradora que nunca nos dá a conhecer o seu nome, mas que nos introduz em tom poético à realidade portuguesa entre os anos 40 e 80.

A narrativa tem lugar no Algarve, algures perto da Nacional 125 (sorte a dos protagonistas, que não têm de viver com as constantes obras da mesma).

Porque o escuro era um ente.

A protagonista é criada pela mãe, Maria Ema, e pelo tio coxo, Custódio Dias, de quem finge acreditar ser filha, ainda que não seja convincente no papel de filha. Cresce rodeada por todos os Dias menos Walter. Não sente ligação com nenhum e ninguém parece reconhecer a sua existência.

Mas não era verdade. De noite, uns enlouqueciam mais do que outros.
Ou então,  de súbito,  um instinto de sobrevivência funcionava, uma chamada de vigilância,  um toque na alma, durante as noites frias que sobreviveram depois da chuva, acontecia. Porque eles, os dois, emitiam sinais claros, perceptíveis.  Maria Ema e Walter Dias rondavam as desoras, pela casa. 

Walter Dias é representado como uma figura ingrata dentro da família, saltitando de país em país, desenhando pássaros com a precisão de um ornitólogo e deitando-se com diferentes mulheres numa manta de soldado que acabará por deixar como única herança à filha de Maria Ema. É odiado por não estar presente e mal amado quando está. 


Quem os amasse diria que eram olhos de anjo, a quem fossem hostis pareceriam de gato. Adelina Dias escreveria mais tarde que era um olhar de chita. Mas essas transfigurações pessoais não eram importantes. Pouco importava a família animal ou angélica a que pertenciam. Os anjos sempre teriam tido saudade da noite em que foram animais, e as bestas sempre hão-de sonhar com o dia fulgurante em que terão caçado a criação inteira, na sua efígie de anjos. Não havia solução para essa dupla saudade.

Apesar de ser apenas composto por 189 páginas, O Vale da Paixão não é de leitura fácil. Esta foi a primeira vez que li algo de Lídia Jorge e fiquei impressionada com a escrita poética que quase me lembra, muito ao de leve, a escrita de Herta Müller. Nem todos conseguimos gostar da ilusão de metáfora como escrita corrente, mas a mim é algo que me apraz daí que tenha gostado tanto desta leitura.

Feita maioritariamente pelo Algarve, deixo aqui alguns dos locais que visitei aquando da leitura do mesmo e que recomendo.



11 da Villa: Em Loulé, este bar/restaurante conta com uma atmosfera vintage, com fotografias expostas e música ambiente muito boa, passando jazz, blues e alguns acústicos fantásticos. A comida é muito boa e as sobremesas são de comer e chorar por mais. 












Paparazzi : No coração de Faro, este restaurante é de passagem obrigatória para os amantes da comida italiana. Fã incondicional de risotto, não resisti ao mesmo e saí mais do que satisfeita. Conta com um ambiente requintado, numa decoração a preto e branco com fotografias icónicas espalhadas pela sala. 

Relembro-vos que as sugestões que aqui deixo são feitas por mim. Podem, aliás, comprová-lo no meu perfil do TripAdvisor.

Boas leituras!



You Might Also Like

0 comentários

Instagram

Subscribe