A Rapariga que Inventou um Sonho - Playlist e Opinião

6:29 da tarde

"Disse que não devia dar muito jeito, essa história de andar sem relógio" -  repeti eu, sem nunca deixar de olhar para ele.
"Por acaso não é bem assim - replicou ele, abanando a cabeça. "Não é propriamente a mesma coisa que viver isolado no meio das montanhas, nem nada que se pareça. Quando preciso de saber a quantas ando, posso sempre perguntar a alguém. "


Este ano dei bastante atenção a Murakami, como é perceptível. A Playlist para este livro já está disponível aqui.

A Rapariga que Inventou um Sonho foi mais uma das minhas compras de impulso. Este foi lido em Português ( e vocês dizem, até que enfim, mas eu confesso que Haruki me soa mais bonito em Inglês. Perdoem a minha arrogância.)

Aquilo que eu vi não foi um fantasma. Vi-me pura e simplesmente a mim próprio. Até hoje nunca mais me esqueci do terror que senti naquela noite. E quando me lembro do ocorrido, vem-me sempre o mesmo pensamento ao espírito: neste mundo, o mais assustador de tudo somos nós próprios. Não lhes parece?

Vinte e quatro contos. A voz inconfundível deste que é sem dúvida um dos grandes mestres da literatura contemporânea. Alguns contos não me disseram muito, como foi o caso de Tragédia Mineira em Nova Iorque ou d'Um dia Perfeito para os Cangurus. O Pirilampo conquistou-me desde inicio por saber de imediato que foi o conto que deu origem a Norwegian Wood (o primeiro livro que li do autor e pelo qual sinto um carinho nostálgico). 

Apaixonei-me por O Mergulhão, Ascensão e Queda dos Azedos, Onde é Mais Possível que a Encontre e O Macaco de Shinagawa.

Murakami e eu partilhamos a paixão pelo Jazz e sempre que leio algo dele a minha lista de música do género aumenta a olhos vistos, assim como o volume, algo que os meus vizinhos não devem achar muita piada (quase a mesma que eu acho quando algum deles escuta Simply Red). Não devemos discutir gostos, mas estas discussões são sempre inevitáveis. E eu detesto Simply Red, mas a vizinha que os escuta apaixonadamente é uma senhora simpática. (Deixemo-nos de à partes.)

Teria o deus do jazz pairado nos céus sobre Boston para me dizer, com uma piscadela de olhos à mistura: «Yo, you dig it?» 

Não viajei muito durante a leitura deste livro, a maior parte dele foi feito na minha cama antes de ir trabalhar ou antes de me dormir. Aliás, em termos de viagens, estou um pouco parada. Ainda a decidir onde vou passar o meu aniversário, mas já nos estamos a desviar de novo do livro. A hotelaria tem-me roubado tempo de leitura e de escrita. E isso está a reflectir-se no meu Goodreads Challenge que este ano dificilmente atingirei (fingers crossed still). Aliás, um especial agradecimento à rltinha (se ainda não a seguem no Instagram, está na altura) que tem incentivado diariamente a minha leitura compulsiva. 

 Murakami tem o condão de me tocar no cérebro e abalroar-me o coração. Este ano foi, como dizemos sempre que o ano novo se avizinha, complicado. Mas, senhoras e senhores, este ano foi difícil como tudo e mesmo assim em cada página de Haruki havia uma frase que me dizia: Estás a ver, miúda? É para todos. E era-me impossível não sorrir um pouco, mesmo que alguma lágrima rolasse face abaixo.

Tenho para mim que tudo o que acontece de triste tem sempre qualquer coisa de cómico.

Sinto que se avizinham mudanças e muitas delas para melhor. E caso não se venha a verificar...

Uma vez que tomada a decisão de cortar amarras, não existe muita coisa de que não nos possamos livrar - isto para não dizer praticamente nada. A partir do momento em que uma pessoa começa a fazer o rol das coisas que pode riscar, descobre que só lhe apetece mandar tudo às urtigas. É parecido como quando se perdeu ao jogo o dinheiro quase todo e se pensa: "Que diabo, vamos lá apostar o que falta. Perdido por cem, perdido por mil."

 Ficamos por aqui, sim? Recomendo o livro para quem gosta de contos e jazz. A Playlist é só a minha escolha pessoal por entre as páginas e as canecas de chá que tomei a lê-lo. 

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