The Great Gatsby - Tavira

9:11 da tarde

Iniciei a leitura deste clássico na cidade de Tavira. Foi uma escapadinha que fiz aos tormentos do dia-a-dia. Não tenho a certeza se já referi, mas não tenho carro, pelo que me movimento maioritariamente por transportes públicos. Para chegar a Tavira, apanhei dois autocarros e a viagem ficou-me em cerca de 19€ ida e volta. Quando na publicação da minha viagem a Tomar referi os vários títulos que que tinha para ler, já sabia que o meu próximo companheiro de viagem seria o Sr. Fitzgerald.

Uma curiosidade sobre a compra deste livro, que considero uma pequena vitória pessoal até (chamem-me tola) : estava em Faro, numa visita mensal que faço à FNAC (pois moro num local onde as livrarias são praticamente inexistentes) e percorri as edições de bolso a pente fino, visto considerá-las as melhores para viagens (curtas ou longas). Não possuo um Kindle ou qualquer outro e-reader. Não os condeno, pelo contrário, sempre me pareceram opções válidas para o transporte de livros de grande porte em viagens, mas nunca aconteceu dizer a mim mesma "Vou poupar uns trocos e comprar um destes." Quem sabe um dia, quando o meu ordenado aumentar. Voltando à curiosidade sobre esta compra, encontrei um exemplar de Gatsby de capa a preto e branco por 12 euros e pouco com um autocolante vermelho que anunciava 20% de desconto. Não contente com o preço, voltei a pousá-lo. A verdade é que já tinha o livro na lista de desejos do Book Depository há alguns (muitos) meses e podia comprá-lo com a capa original por menos de 5€. Gosto de literatura e o lema é nunca julgar um livro pela capa, mas na verdade, não considero a capa original do The Great Gatsby apelativa. Há mais capas, há mais edições e na FNAC há mais prateleiras cheias de livros que, muitas vezes, escondem ainda mais livros por detrás daqueles que ali estão. Foi nesse esconderijo que encontrei uma edição da Alma Classics por cerca de 8€ à qual não resisti e que, ao chegar à caixa paguei apenas 6€. Dá um certo gozo, não dá?

Vamos ao que interessa: a viagem!

“I was within and without, simultaneously enchanted and repelled by the inexhaustible variety of life.”

Tavira é uma cidade pequena e facilmente se conhece num dia. No meu caso, fiquei duas noites.  Confesso, precisava de um novo refúgio.Tavira foi o local certo. O centro da cidade é serpenteado e dividido pelo rio Gilão e a Ponte Romana foi o primeiro pedaço de História que avistei após sair da estação rodoviária. 




Onde ficar em Tavira:

“Life is much more successfully looked at from a single window.”


Uma vez mais escolhi um local que me pareceu agradável e onde não tivesse de partilhar um quarto cheio de beliches e casa de banho. Encontrei uma Residencial chamada Casa do Postigo que fica mesmo no centro, a dois minutos a pé do Castelo de Tavira. Liguei para o dono que me pediu que verificasse online o único quarto disponível que tinha para as datas da minha estadia. Era o único quarto fora da Casa. Apaixonei-me. Na porta ao lado da pequena Casa do Postigo há uma portinha azul que é um quarto extremamente acolhedor. Fiquei com o quarto. Há água de cortesia à chegada assim como docinhos, uma chaleira e chás. A limpeza é boa e feita todos os dias durante a estadia. Melhor ainda, Para além da decoração rústica, quatro livros descansavam na banca de cabeceira, caso o viajante se esqueça de levar o seu. Há um pequeno pátio a que todos os residentes têm acesso e onde o pequeno-almoço é servido. No meu caso, desta vez não adicionei o pequeno-almoço à minha estadia, mas na Casa do Postigo é possível fazê-lo por 8€ por pessoa.

O que visitar em Tavira:


Não visitei a Ilha de Tavira. O tempo estava incerto e durante os dias em que me refugiei nesta cidade, choveu frequentemente. Tive azar com o tempo.

O centro da cidade concentra a maior parte das atracções e todas elas ficam a poucos metros umas das outras. Esta é uma cidade que rapidamente se vê, mas como sempre, eu gosto de me demorar nos locais, de absorver a atmosfera à volta de cada um dos sítios onde estou, seja um jardim ou um museu. 


“And so with the sunshine and the great bursts of leaves growing on the trees, just as things grow in fast movies, I had that familiar conviction that life was beginning over again with the summer.” 


Tavira é uma cidade cheia de Igrejas (mais de trinta) e eu visitei algumas. Saindo da Casa do Postigo pela direita encontramos a apenas alguns metros de distância o antigo Convento da Graça, transformado agora numa pousada. Nesse largo, encontramos a Igreja de Santa Maria que remonta ao século XIII e foi reconstruída após o terramoto de 1755 pelo Bispo D. Francisco Gomes de Avelar. Quando a visitei tive hipótese de ver uma pequena Exposição Temporária de Arte Sacra com peças desde o século XV até ao século XX. Pode-se subir ao campanário desta Igreja. Cuidado se forem perto da hora das badaladas, mas para quem vê de fora, aquela torre do relógio é das mais bonitas do Algarve. A zona do campanário está um pouco mal conservada por dentro, mas é possível ver-se o Largo Abu-Otmane. É neste largo que encontramos a entrada para o Castelo e Muralhas de Tavira, com entrada livre e um jardim onde paira um aroma delicioso a figos. Acreditem! Quando fui, estava um senhor a tocar música ao vivo, oferecendo aos visitantes algumas covers que me fizeram cantarolar enquanto subia e descia pelas muralhas.

 “Can’t repeat the past?…Why of course you can!” 


Descendo a rua, encontramos logo à nossa esquerda o Palácio da Galeria onde me perdi durante uma boa hora (talvez mais). Para além das escavações dos poços rituais fenícios, e da Exposição da Dieta Mediterrânica, cuja última sala culmina com uma cozinha, eu tive o privilégio de assistir à Exposição temporária O Surrealismo Em Portugal - A Colecção da Fundação Cupertino de Miranda. E tão satisfeita que fiquei! Deu para inclusivamente assistir à curta-metragem de Carlos Calvet sobre Mário Cesariny com João Rodrigues: Momentos da vida de um Poeta.

Mesmo junto do Palácio da Galeria, pode-se descer de imediato para a Igreja da Misericórdia, onde para além de se visitar a Igreja é possível assistir a uma Exposição de Esculturas de Arte sacra e subir a uma pequena Torre com vista para o centro de Tavira.

Ao sair da Igreja há dois locais que considero de grande interesse visitar: Fado com História. Numa pequena sala e pelo preço de 5€ por pessoa, passa um vídeo onde nos são explicadas as raízes do Fado (perfeito para estrangeiros) para logo de seguida ouvirmos a Guitarra Portuguesa encantar-nos seguida da voz da fadista residente que nos deixa a lágrima no canto do olho como o Fado sempre consegue. Vírgilio Lança, Jorge Franco e Teresa Viola são os artistas residentes. É um espectáculo que dura cerca de 45 minutos e que vale a pena.


“Life starts all over again when it gets crisp in the fall.”


Ainda perto da Igreja da Mesiricórdia encontrei um cantinho do qual me tornei fã. A Casa Álvaro de Campos, com um café (Café com Livros) que ainda lembra aqueles cafézinhos de antigamente, onde se vendem livros usados e com aquele cheiro característico da idade literária que muitos de nós adoramos. Os galões não são servidos com  espuma e desenhos xpto's como a maior parte dos cafés faz hoje em dia e que quase todos nós achamos piada. São os galões da minha infância. Num copo de vidro transparente e onde café e o leite são homogéneos. Há um piano, um pequeno jardim onde se pode jogar damas e uma galeria no piso inferior onde encontrei e me apaixonei pela Exposição In Citations de Isabel Macieira e Matthijs Warner. A estética simples enterneceu-me e, por muito incrível que possa soar, enquanto estive na cave a ver a exposição, alguém tocou o piano lá em cima e isso ainda tornou a experiência mais intensa. Chamem-me lamechas.

No centro, na porta ao lado do posto de turismo, está outro museu que vale a pena visitar: o Núcleo Museológico Islâmico. Começamos por ver um pequeno filme explicativo sobre a a permanência Islâmica na zona para de seguida subirmos ao primeiro andar e encontrarmos vários artefactos arqueológicos da Tavira Islâmica, entre eles o famoso Vaso de Tavira. No segundo piso, decorrem exposições temporárias e devo confessar que fiquei um pouco desiludida com a Exposição Dançando o Mouro pois nela constavam apenas painéis que explicavam influências das representações festivas mouriscas nas nossas tradições mais actuais. Gostava de ter visto uma exposição mais interactiva. 


Como já referi, choveu um pouco durante a minha estadia, mas ainda consegui aproveitar para uma tarde de leitura no Jardim do Coreto, para passear pelas margens do Rio Gilão e admirar as ruelas de Tavira, que são um sonho medieval. Fiz uma breve visita à Igreja de Santiago, que é linda, mas onde infelizmente está um rádio ligado e onde se fala alto. Não sou Católica, mas gosto do ecoar dos nossos passos nos locais que muitos consideram sagrados.

Algumas horas antes de partir, ainda dei um salto ao Clube de Tavira onde numa pequena sala à direita de encontram várias cartas e outros documentos pertencentes a familiares de Fernando Pessoa que viveram nesta cidade. Para os amantes da caligrafia, é uma pérola escondida.

A  cidade mostra-se muito ligada a Álvaro de Campos (heterónimo de Pessoa nascido em Tavira a 15 de Outubro de 1890, segundo Pessoa). Desta forma, não será de estranhar que se encontrem muitas referências ao escritor por toda a cidade. Fiquei encantada com Tavira, especialmente a nível cultural. Mas isso, já devem ter percebido. 

Onde comer em Tavira:

Normalmente, não vou a muitos restaurantes quando em viagem, mas desta vez tive companhia e aproveitámos para desfrutar de alguns lugares fantásticos e outros menos bons. Vou aqui enumerar os que mais gostei e talvez os caros leitores queiram experimentar os mesmos locais.

 GOJI: Tomei um dos meus pequenos-almoços neste pequeno mas acolhedor café mesmo no centro de Tavira. A Taça de cereais com fruta fresca e iogurte é deliciosa. Há opções para vegetarianos e vegans. Não é caro. 

Mira Cafe Tapas&Wine :  As tapas são fantásticas (os camarões com mel e gengibre são de comer e chorar por mais e a tarte de limão merengada é perfeita).

Café Meringue: Apesar dos preços serem um pouco altos, a decoração, o atendimento e a qualidade dos produtos compensam. Visitem, levem um livro e bebam um bule de chá Sacha. Acreditem que vai valer a pena.


Sei que, enquanto viver no Algarve, Tavira será um destino a revisitar. Gatsby foi uma leitura deliciosa nesta cidade encantadora. Em breve colocarei a Playlist com a minha opinião. Por agora, fica apenas o meu roteiro pessoal.


“All I kept thinking about, over and over, was 'You can't live forever; you can't live forever.” 

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