On The Road - Tomar

11:53 da tarde

The train howled off across the plains in the direction of our desires. 
Jack Kerouac in On The Road

Depois de uma breve visita à minha terriola (menos de 20 horas), rumei em direcção a Tomar. Decidi fazer a viagem de comboio pois é um dos meus meios-de-transporte favoritos, mas que infelizmente é raro usar. A leitura para estas férias foi, como já devem ter percebido, Jack Kerouac com o seu On the Road. Talvez esta escolha fizesse mais sentido na altura em que viajei à boleia pela Roménia, mas não calhou. A verdade é essa. Li vários livros durante essas viagens, mas nenhum deles que tratasse do assunto em questão. 

Escolhi Tomar um pouco por impulso. Na verdade, estava a preparar uma viagem a Roma que, por vários motivos que não vou explicar aqui, teve de ser adiada com data ainda por definir. Decidi ficar por Portugal e Tomar surgiu depois de falar com ao telefone com um amigo acerca de umas leituras que fizera em adolescente sobre os templários. Leituras essas, confesso, inflacionadas após a febre do Código da Vinci do Dan Brown.

As opções de leitura que tinha para estas férias eram três: A Rapariga que Inventou um Sonho de Haruki Murakami, The Great Gatsby de F. Scott Fitzgerald ou o On the Road (se a vossa questão é o porquê de uns títulos de estarem em Inglês e outros em Português, deve-se ao facto de ter a edição num desses idiomas). Como Kerouac chegou a minha casa três dias antes das férias e eu ter assistido ao Kill My Darlings um dia antes, ficou decidido que ele me acompanharia de mochila às costas.  

Apaixonei-me por Tomar assim que desci do comboio.

O Castelo dos Templários e o Convento de Cristo surgiram ao alto no horizonte e eu respirei aquele ar leve que nos diz que nos deparamos perante todo um caminho de aventuras. Assim, de mochila às costas segui com um sorriso de orelha a orelha em direcção ao local onde iria ficar hospedada. Por favor notem que o roteiro que aqui exponho foi improvisado à medida que fui conhecendo a cidade. Não planeei nada em concreto, até porque gosto de ser surpreendida à medida que passeio pelas cidades e não viajo num frenesim para dizer que vi tudo. Prefiro antes viajar sem pressa e deixar-me deliciar pelo que me rodeia. Relembro também que fiz a viagem de mochila às costas, o que me limitou as idas a algumas zonas de Tomar.

Man, wow, there's so many things to do, so many things to write! 
How to even begin to get it all down and without modified restraints and all hung-up on like literary inhibitions and grammatical fears...
Jack Kerouac in On the Road 


Onde ficar em Tomar:

No centro há uma grande variedade de Hotéis, Residênciais e Hostéis para qualquer tipo de viajante. No meu caso, prefiro ter um quarto meu e com casa de banho privativa. Não me importo de pagar um pouco mais para manter-me confortável em viagem. Já lá vão os tempos em que pernoitava em dormitórios cheios de beliches.

Fiquei hospedada no Thomar Story - Guest House. Este pequeno hotel conta com apenas 12 quartos, todos eles diferentes e com um design pitoresco que partilha com os hóspedes um pouco da história da cidade. Eu fiquei hospedada no terceiro piso, no quarto Cavaleiros Templários e, apesar do cor-de-rosa ser das minhas cores menos favoritas, senti-me em casa. O quarto estava pronto quando cheguei e deixaram-me logo subir. Por cinco euros por dia é possível adicionar o pequeno-almoço à estadia e, a meu ver, compensa. Porque eu sou um monstro até beber o meu café e comer bem. E o pequeno-almoço do Thomar Story é bem composto e com variedade. O hotel é mesmo no centro histórico da cidade e numa questão de minutos é fácil alcançar-se qualquer ponto de visita pertinente, cafés, restaurantes ou mesmo mini-mercados. Não aconselho este hotel se têm problemas de mobilidade ou se levam muita bagagem, pois não tem elevador.


O que visitar em Tomar:

As ruas que levam à Praça da República têm um encanto natural e demorei-me nelas sem remorsos. As portas rodeadas de flores e hera e claro, as janelas de Tomar são fascinantes com os seu motivos que (algumas) remontam para lá do século do séc. XV. Numa dessas estreitas ruas, é possível visitar a Sinagoga (Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto). Este é um museu de visita rápida, se forem como eu que lêem cada uma dos pontos de informação e se demoram a admirar pormenores, irão levar vinte minutos. A senhora que está à entrada do museu dá uma pequena explicação sobre a história do local e está disposta a responder a qualquer dúvida que possam ter sobre os vários objectos expostos e que caracterizam a religião hebraica. A entrada é gratuita, mas os visitantes podem fazer doações.


A caminho da Praça da República, encontramos o edifício d'A Gráfica - Livraria e Papelaria. Apesar de encerrada e de se notar que há necessidade de reabilitar o edifício o quanto antes, tem a sua graça e não resisti a fotografar aquele amarelo contra a calçada cinzenta.

A Praça da República dá-nos uma vista privilegiada para o Castelo dos Templários, mas ainda nela há locais de interesse. Gualdim Pais surge naquele que é o início do caminho para o Castelo e o Convento de Cristo, de frente para a Igreja de São João Baptista. No chão da praça é comum encontrar-se a Cruz Templária em relevo e claro que a mesma dá aso às fotografias de sapatinhos. A Praça está repleta de restaurantes e cafés. Ainda que seja o coração da cidade, não há confusão. Mesmo os pombos são pachorrentos. Será possível?

Se ainda não estiverem prontos a subir à jóia que é o Convento da Ordem de Cristo, aconselho que dêem um salto ao Museu dos Fósforos. O que começou por ser uma troca de caixas de fósforos entre Mota Lima e uma viajante americana aquando da coroação da Rainha Isabel II, tornou-se vasta colecção de caixas, carteiras e etiquetas de fósforos. Sete salas em que uma delas apresenta apenas caixas Portuguesas. São pequenos tesourinhos que nos levam de volta atrás no tempo, através de algo tão simples como um fósforo e a sua caixa. Aproveitem e, mesmo em frente, está a Oficina de Olaria e Azuleijaria onde podem adquirir os mais diversos objectos na arte da azuleijaria (sim, eu comprei um anel) e ver como são feitos. A Igreja e Convento de S. Francisco encontra-se a alguns metros destes museus.

Um final de tarde bem passado é na relva ou na esplanada do Parque do Mouchão. Este pequeno refúgio no centro da cidade tornou-se um dos meus locais favoritos durante a minha estadia em Tomar, onde passei muito tempo a ler. O som do Nabão em cascata junto à ponte velha ou o restolhar das folhas ao toque da brisa são a perfeita banda sonora literária. Seja qual for o livro.

Ao atravessar a ponte, podemos ainda ver a fachada da Capela de Santa Iria. Não a visitei por dentro pois estava fechada quando passei por ela, mas caso vos seja possível, façam-no. A cinco minutos a pé, encontramos a Igreja de Santa Maria do Olival onde não podemos tirar fotografias, mas cuja fachada gótica merece a nossa atenção.

No meu caso, dediquei um dia inteiro ao Convento de Cristo e à Mata dos Sete Montes.

Subi ao Convento pela manhã e levei o meu tempo no jardim e a passear pelo interior das muralhas. Evitem juntarem-se às extensas excursões de turistas estrangeiros que visitam o local. Se chegarem ao mesmo tempo que um desses grupos, como foi o meu caso, deixem-nos subir e demorem o vosso tempo a apreciar os pequenos prazeres que o Castelo tem a oferecer.  Quando virem que a fila para entrada já encurtou, aí sim, subam e comprem o vosso bilhete. Acreditem, o Convento é uma maravilha quando se vê com espaço e pouco barulho.
Claustro Principal do Convento de Cristo

Paguei 6€ pela entrada e 1€ por um guia que me deu jeito. Não se apressem nesta visita. O Convento está cheio de recantos e detalhes preciosos. Aliás, para os amantes da fotografia este é um paraíso de relevos, texturas e natureza. O Claustro Principal arrebatou-me o coração e foi possivelmente onde mais me demorei nesta visita.  A Janela do Capítulo arrancou interjeições de espanto a todas as pessoas que encontrei no meu caminho e não é sem razão, não fosse ela um ícone da Arte Manuelina. É a Charola Templária, no entanto, o verdadeiro Santo Graal deste monumento. A riqueza das cores dos murais que representam a Paixão de Cristo deixam-nos embevecidos, assim como todas as imagens de profetas, santos e anjos.

Why think about that when all the golden land's ahead of you and all kinds of unforeseen events wait lurking to surprise you and make you glad you're alive to see? 
Jack Kerouac in On the Road

Charolinha
Depois de um almoço que não passou de um pão com chouriço e uma maçã num banco fora do Convento, iniciei a minha caminhada até à Mata dos Sete Montes que fica a cinco minutos do Convento. É um paraíso bucólico às portas de Tomar onde a natureza, a arquitectura e até o desporto se encontram. Existe um pequeno parque de merendas, trilhos delineados dentro da Mata com pequenas relíquias como é o caso da Charolinha. Apesar de encontrar-se sem água, como a podemos ver nas fotografias do Google, este é um ponto chave dentro da Mata. Há mesas à volta e para além dos chilrear dos pássaros, tudo o que se ouve é a paz de espírito que ali se encontra. Como já era de esperar, deixei-me ficar a ler por ali. Sem pressas.

Tomar está cheio de locais a serem visitados. Alguns deles, são mais fáceis de alcançar de carro. Porém, para quem viaja como eu, de mochila às costas, usando os transportes públicos, mas sem horários a cumprir, estes são alguns dos pontos que considero importantes a serem visitados.

Keep it kickwriting at all costs too, that is, write only what kicks you and keeps you overtime awake from sheer mad joy.
Jack Kerouac in On the Road

Onde Comer em Tomar:

Na maior parte do tempo, os meus passeios são feitos com pequenos snacks e uma garrafa de água dentro da mochila. Não tenho por hábito parar em restaurantes para ter uma refeição completa.
Em Tomar não foi excepção, mas ainda assim parei de vez em quando nos cafés da zona para petiscar algo quando os meus snacks não eram suficientes para me alimentarem. Há sem dúvida muita escolha no centro da cidade e para os amantes da gastronomia há restaurantes "cheios de pinta" e com grandes pontuações no TripAdvisor (para quem se rege pelas mesmas). Vou fazer referência apenas aos locais onde fui, como seria de esperar e aproveito para clarificar que nenhum deles patrocina esta publicação.

Limonada no (Café) Paraíso
Café Paraíso - É um ícone junto à Praça da República e a limonada é fantástica. Foi me dado açúcar, mas não foi necessário. Tem uma esplanada com vista para o Castelo dos Templários.

Legenda Medieval -  Têm uma promoção de 1,35€ onde se bebe um expresso e o bolo do dia. Quando lá fui, era uma tarte de Limão e Caramelo com amêndoas. Sou gulosa, não tive como resistir!

A Rosa - Café dos Artistas - Mesmo no coração da Praça da República e com uma variedade imensa de pastelarias. Parei na altura para comer uma sopa que estava deliciosa.

Restaurante Beira Rio - Se há risotto no menu, é com quase toda a certeza o que vou escolher. Fiquei fã do risotto de gambas deste restaurante perto do Parque de Mouchão. E os funcionários foram uma simpatia.

Tomar passou a ser uma das minhas cidades favoritas em Portugal. Sei que vou voltar. Estejam à vontade para me darem dicas para uma próxima visita, caso conheçam a localidade. Se ainda não conhecem, este é um dos destinos portugueses que devem adicionar à vossa lista.

Kerouac foi a minha única companhia e, apesar das (gigantescas) disparidades entre os cenários, consegui encontrar frases que se aplicaram à minha viagem. Adorei Tomar. Adorei Kerouac. Adorei ler Kerouac em Tomar.

The road must eventually lead to the whole world.
Jack Kerouac in On the Road


Aceito também sugestões para uma próxima viagem e leitura acompanhante.

You Might Also Like

0 comentários

Instagram

Subscribe