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Já não era criança mas resistia em mim uma teimosia, uns
lábios cerrados, fendidos, uma vontade pétrea de resguardar em mim o que
só meu queria.
O talento não escolhe idades e este livro é a prova disso mesmo. Com apenas vinte anos de idade, Rodrigo Guedes de Carvalho escreve a história de Pedro numa linguagem muito semelhante à de António Lobo Antunes.
A angústia das personagens, principalmente de Pedro, é palpável. Assim como as ondas de tristeza que assomam às vidas daqueles a quem ele está ligado, especialmente a ex-mulher e a filha.
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Em Daqui a Nada, Pedro é dado como morto em 71 enquanto combatia em Angola e, ao regressar a Portugal, descobre que a esposa, Marta, teve um caso com um amigo dele. Vira então costas à família, especialmente à filha Rita, a quem deixa de ser capaz de reconhecer caso lhe passe à frente numa qualquer rua. Envolve-se então com Paula, uma mulher muito mais jovem, quase da idade de Rita, mas nem esse caso amoroso que se poderia assemelhar a uma lufada de ar fresco o faz pôr de parte a sua solidão.
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É um livro pequeno mas a sua leitura requer atenção e, se me permitem, apreço pelas palavras do jovem autor (na altura). Ser-se capaz de tamanha destreza narrativa em tão tenra idade é de louvar e deve ser levado em conta. Fiquei bastante curiosa para conhecer o resto da obra de Rodrigo Guedes de Carvalho.
A minha leitura foi feita num pequeno fim-de-semana em Lisboa e deixem que vos aconselhe um dos restaurantes que visitei na altura, A Praça na LX Factory. Fiquei fascinada com a decoração e a comida é deliciosa.
Boas leituras!